Sou um cabra que produz, verdadeiro batalhador.
Sou homem dedicado, guerreiro e trabalhador.
Levanto de madrugada, faço o café e pego a estrada.
Rumando para lida esta é minha jornada!
Se recebo mais trabalho eu não nego nem reclamo.
Diminuem meu salário e mesmo assim pego no trampo.
A cada dia na estrada vou pensando e ainda canto.
Sou guerreiro do trabalho, não choro, não tenho pranto.
Vou ficando cada dia mais perito em meu ofício.
Praticando mais e mais, minha lida é mui difícil.
O que faço nessa vida dá prazer, me realizo.
Inicio minha jornada e agradeço o santo Cristo!
Uma coisa, contudo, minha cabeça aporrinha.
Todo dia eu trabalho, pareço um galo na rinha!
Mas tem uns cabras safados tirando o leite da bezerrinha,
Que cuido com tanto trato, pois é minha tesourinha.
Tem cabra levando os ovos até das minhas galinhas.
Tem outros metendo a mão na botija da minha farinha.
E os que chegam pra colher até minhas abobrinhas.
Pior são os que comem, inclusive, as andorinhas!
Eu trabalho e eles chegam pra comer o que plantei.
Eu que ralo e lá vem eles pra mexer no que criei.
Sacrifico e essa gente mete a mão no que matei.
Me dedico pra essa corja se fartar onde empenhei!
Noutros tempos chamaria esses cabras de ladrão.
Pegaria minha arma e os metia no rabecão!
Se fosse naqueles tempos, tiravam sarro comigo não!
Porque sendo cabra macho metia neles meu facão!
Mas hoje vivo o tempo do errado que ficou certo.
Não adianta reclamar, então a nada me apego.
Tô aqui a trabalhar vendo os bandidos ali, bem perto.
Mas fico só a maquinar: ah se um dia eu lhes pego!
Se eu pego minha arma não posso me defender.
Bem capaz de eu ser o cabra que na cadeia vai sofrer!
E as pestes ficam aí, soltas a me ofender.
A me chamarem de ultrapassado, envergonhado vão me ver.
Reclamo por meus direitos, mas ninguém vê minha dor.
Eu me olho no espelho, mas só vejo um sonhador.
Trabalho todo dia e faço com muito amor.
Mas quem goza do meu trabalho é um cabra opressor.
O nome dele é governo, odeia cabra trabalhador.
Se eu pego na enxada lá vem ele, com furor!
Eu na beira da estrada e ele rindo sem pudor.
De um cabra que trabalha só com fé no Criador.