A vida é bela, é uma dádiva, é um privilégio. Viver é resplandecer num universo que estaria vazio. Imenso, mas sem ninguém que pudesse contemplar sua grandiosidade.
O medo, porém, é a sombra que esconde a maravilha da vida. É o obstáculo que impede o ser de alcançar regozijo e paz interior. É o veneno da alma. É a droga que entorpece os sentidos do espírito livre do homem.
O medo causa pânico, alimenta guerras, exalta os ânimos, ergue os muros que separam os homens, estabelece a desconfiança, é a principal ferramenta dos tiranos, ele empodera a fúria e tira de nós a beleza da vida.
É preciso entender que nada nos pertence e que tudo perece. É preciso aceitar as coisas como elas são. É preciso receber de bom grado tanto os presentes da vida quanto seus infortúnios e seguir em frente. Esse é o caminho para vencer o medo e encontrar a paz. Lutar pelo que desejamos, mas aceitar o destino, pois não o controlamos.
O futuro pode ser uma grande aventura a ser vivida. Mas também pode ser seu pior pesadelo. Quando andamos preocupados com o dia de amanhã, entregamos ao ladrão, o medo, o dia de hoje que ganhamos como um presente.
O medo é a prisão da alma. A ansiedade é o seu chicote. E o resultado é uma alma torturada que mal consegue dormir. Deita-se e repousa a cabeça em um travesseiro de pedra. Revolve-se o tempo todo, procura uma posição que nunca encontra. Vê o relógio avançar – conta os segundos. Pensamentos após pensamentos. Um ruminar sem fim.
As coisas não estão sob o nosso controle. Não somos nada. Devemos nos portar com humildade e aceitar os cursos da vida. Esse é o caminho da paz.
Riquezas, poder, atenção, fama, popularidade, curtidas nas redes, o corpo mais desejado, o melhor carro, a melhor casa, os melhores hotéis, os melhores iates… tudo isso não vale nada. Paz é a única coisa que pode dar ao ser humano a alegria de viver. Tudo mais é alimento para a ansiedade e o medo.
Alguns sonham com ela em barracos humildes, outros sonham com ela em ricas mansões. Ela é necessária a todos, mas nem todos podem obtê-la. Muitos a procuram nas coisas que perecem, padecerão sem conhecê-la.
É preciso buscar a paz com a mente e o coração abertos. Ela somente abençoa aos que não amam esse mundo, mas contemplam algo além. Aos que aceitam seu destino, aos que não desejam controlar os eventos da vida. Aos que satisfazem-se com o que a vida lhes dá.
É nobre trabalhar e buscar mais. Porém há um preço a pagar quando colocamos as coisas materiais em primeiro lugar. Semeie muito sem esperar nada e alegre-se imensamente com cada semente brotada. Ou trabalhe um pouco esperando muito e seja imensamente frustrado por cada semente infrutífera. São duas visões do mesmo fato. Uma lhe dará alegria, a outra desilusão.
Só vivi um pouco, mas já vi pessoas frustradas tendo tudo e pessoas felizes tendo nada. Não alcancei o nirvana, mas já entendi para onde aponta a bússola da realização. E ela não encontra o caminho das futilidades da vida.
Ostentar é perecer. Humildade é poder. Sonhar é viver e aceitar é entender que o universo não gira em torno do homem.
Alcançaremos uma sociedade mais digna e justa quando entendermos o valor do próximo e desprezarmos as breguices da alma. Mas não sei se estou pronto para essa conversa…