Gosto muito do trabalho do cantor Lulu Santos. Ele, como outros grandes nomes da nossa música, foram protagonistas de uma “geração marcante”! Algumas frases presentes nas músicas dele são inesquecíveis, como “quando um certo alguém desperta um sentimento, é melhor não resistir e se entregar!”, “nada do que foi será do jeito que já foi um dia”, “não vou sobrar de vítima das circunstâncias”, “assim caminha a humanidade, aos passos de formiga e sem vontade”, “a gente vai a luta e conhece a dor” e muitas outras. A música dele é romântica, positiva, alegre e cheia de um maravilhoso espírito de aventura! Coisas que considero em falta hoje em dia ao observar pessoas acanhadas, medrosas, extremamente reflexivas, distantes e sem nenhuma disposição para correr riscos.
Renato Russo, com seu grupo Legião Urbana, também fez grandes contribuições à nossa música e deixou o título de “Geração Coca-Cola” para representar uma juventude que nunca o esquecerá e que também jamais será esquecida. Ele falava de uma rebeldia positiva, novos conceitos, muito amor (de verdade) e um convite à se viver a vida!
Cazuza, com todas as suas mazelas, foi um cara que viveu intensamente, acreditava no amor, na mudança, em algum tipo de revolução social que nem ele sabia explicar ou definir – já que queria uma “filosofia pra viver” – e fez muita história em seus poucos, mas repletos de experiências, anos de vida.
Barão Vermelho, Titãs, Biquini Cavadão e tantas bandas fantásticas que encheram nossas vidas de conceitos vibrantes fizeram dos anos 80 e 90 realmente inesquecíveis!
Mas olho para essa geração mais recente e sinto uma certa tristeza. Ela me parece fria, tímida, sem expressão e medrosa. Ofende-se com tudo, não se apega a nada, mantém relacionamentos o mais superficiais possível, não mergulham em nada – muito menos de cabeça -, não amam, não se apaixonam… parecem que estão aqui, mas realmente não estão.
Medo de sofrer, medo de se envolver, medo de se comprometer… com pessoas, projetos, ideologias – aliás, que ideologia? -, não há nada que os marque ou identifique além do mero descaso para o que se passa no mundo e em seu mundo interior.
A internet virou o lar dessas mentes e a realidade em si, enquanto o mundo físico tornou-se “virtual”. Elas têm comportamentos diferentes lá, naquele mundo frio, e aqui, onde as coisas realmente acontecem. O celular é seu talismã, pé-de-coelho, canivete suíço, espada e escudo – não se pode viver sem ele!
Amizades são pessoas que você adiciona nas redes sociais. Relacionamentos sérios são os declarados no status do Facebook: com a academia, com a felicidade, com o coração, com a natureza, com o futebol e por aí vai. As pessoas – e estar com elas – perderam o valor na vida dessa geração.
Compartilhar tornou-se sem importância, pois “o importante é ser sua própria felicidade” e “você é sua melhor companhia”, além do mais, “solidão ou liberdade, você escolhe”. Morro de rir quando leio essas frases nas redes sociais. A barra está sendo mega forçada para tentar provar que o fato de não serem capazes de estabelecerem relacionamentos sadios e duradouros não os incomoda. Mas o travesseiro de cada um sabe muito bem, à noite, como essas frases prontas são “verdadeiras” e como aqueles corações nutrem-se de uma “felicidade sem fim” – SQN -, tal como na foto de um post pulando na beira da praia, onde a pessoa parece voar – quisera poder voar para longe de sua solidão que, por mais que se esforce, não pode simplesmente aniquilar.
Hoje fala-se até em “amizade madura”, na qual, segundo essa falácia, as pessoas não precisam se ver ou estarem juntas – até mesmo por anos – para que a tal “amizade” continue existindo. Pois, segundo essa ideia, que me vejo no direito de considerar doente, as pessoas são um mero detalhe. Basta haver sobre elas um “conceito virtual”, ou vaga lembrança que vez ou outra reaparece na mente do “amigo maduro”. Pronto, continua sendo a mesma amizade.
Enquanto essa geração tenta destruir os próprios sentimentos, naturais ao ser humano, e convencer-se de que não precisa de ninguém, suas vidas passam e experiências importantes ficam para trás – ou melhor, inexistem. Amigos de verdade, amores intensos, paixões arrebatadoras, o calor humano de pessoas com quem você realmente sente NECESSIDADE de estar porque as ama – o que há de mal nisso?
Muitos sofrem de traumas que realmente jamais experimentaram! Assistiu o pai ou a mãe ter um relacionamento turbulento, aprendeu de algum frustrado que não deve confiar nas pessoas – muito menos amá-las -, pois podem se decepcionar, e outras coisas banais como estas, constroem uma sociedade carente e ressentida. Cheia de pessoas incapazes de se relacionarem com profundidade.
Mais legal que “ficar”, por exemplo, é “ficar na vida” de uma pessoa e compartilhar lágrimas e sorrisos, de alegria e tristeza – pois ambos são partes componentes da vida e igualmente importantes. Ao querer fugir da possibilidade da dor, fugimos das realizações e experiências da vida – o que nos faz verdadeiramente humanos.
O que você acha de juntos repensarmos essas patologias sociais? Se é que você também não rotula apenas como “chato” qualquer “papo” mais sério sobre as coisas da vida – outro comportamento que pode ser visto com bastante frequência. Nos anos 80 e 90 nossa música tratava de temas sociais e “assuntos chatos”, aqueles importantes para vida de todos nós. E achávamos isso o máximo! Nossa música, desculpa aí, não falava quase que estritamente de baixaria, violência e praticas criminosas, como se fossem as melhores coisa que existem.
Sexo todo mundo adorava e fazia bastante – prova disso é que há uma geração mais nova. Mas não cantávamos sobre isso o tempo todo e nem de forma baixa a ponto de crianças conseguirem conhecer metade do cama sutra aos dez anos de idade.
Haviam relacionamentos abertos, mas as pessoas não se restringiam a isso. Havia muito amor e romantismo também. Ninguém saia correndo apavorado quando se falava em namoro – exceto adolescentes -, como se isso fosse a décima primeira praga do Egito antigo.
Sempre existiu violência, mas não costumávamos ir aos estádios ou as festas só para brigar e até para matar as pessoas como se não houvesse nada mais interessante a fazer.
As pessoas se divertiam, mas ainda se interessavam por questões sociais e protestavam de forma legítima por direitos, através da música, da arte em geral e do comportamento cotidiano. Havia mais respeito e mais vontade de viver intensamente!
Hoje até nosso senso de humor está desafiado quanto à sua sobrevivência, pois o mimimi é tão grande que não há piada que não ofenda alguém em algum lugar. Nossos humoristas pisam em ovos para sobreviverem – e ainda dizem que não há censura, será que não?
Por amor de nossos filhinhos – e isso se conseguirmos consenso para continuarmos procriando -, convido a “geração mimimi” a deixar o celular desligado algumas horas do dia e a aumentar a dosagem (de celular desligado) continuamente. Quem sabe assim descubram por aqui, no mundo real (sim, este aqui é o real, não aquele!) algo interessante para experimentar de verdade. Tente fazer um passeio sem tirar milhões de selfies que sequer te permitem contemplar e viver, de fato, aquilo que você quer mostrar aos outros que viveu. O que acha?
Eu também tiro fotos e faço selfies. Também posto nas redes sociais, não sou nenhum alienado. Mas a frequência, a quantidade e, principalmente, a necessidade de fazer isso não me impede de viver aquele momento. Não levo o celular sempre no bolso como se fosse mais importante que a minha própria cabeça e, se ninguém souber onde fui e o que eu fiz, ou se só passar um dia normal em casa num fim de semana ensolarado, eu não morro nem tenho uma crise de abstinência com espasmos cruéis por causa disso.
Vida plena é vida equilibrada. Pense nisso e um beijo do tamanho do seu coração! Não do tamanho do seu celular, ok? 😉