Pergunta simples, não? A pergunta sim, mas a resposta… aí fica difícil. A maioria das pessoas têm problemas com essa pergunta. As que tentam responder – pois quase tudo mundo se nega – geralmente fala daquilo que gostaria de ser ou descreve o que acha que os outros esperam dela. Dizem aquilo que, segundo acreditam, atende as expectativas dos demais.
Mas… a pergunta persiste: quem você é?
Não se trata de se definir para os outros ou de corresponder a tal expectativa social sobre você. Não se trata de atender aos anseios de amigos, familiares ou da galera com quem você se relaciona. Não é sobre o que você mostra sobre si mesmo nas redes sociais ou sobre o personagem que você interpreta para os outros, quer seja no trabalho, na rodinha, nos almoços de família, na escola, na faculdade, na igreja, no meio da turma do futebol, da corrida, ou do volley.
O ponto aqui não é falar daquele monte de máscaras idiotas que você usa – pelo menos eu consigo admitir que uso. Estou falando de autoconhecimento. Aquela consciência de si mesmo que conduz à tão sonhada liberdade! Aquela que todo ser humano que respira, deseja.
O comportamento mais comum é fugir de uma pergunta dessas, quer seja simplesmente negando-se a responder, quer seja utilizando respostas padronizadas que todo mundo repete por ai. É tal como a velha pergunta sobre a felicidade. Todo mundo diz que é mega ultra super power feliz, exceto àqueles que sofrem de depressão – para os quais a vida não faz muito sentido e, às vezes, ousam falar até de morte e suicídio.
Essas pessoas, diferentes por motivos diversos, chocam os outros a tal ponto que, só de eu tocar no assunto, muitos já desistirão de ler esse texto a partir desse ponto – só porque falei sobre elas. Mas é um assunto que precisamos tratar, ou a taxa de pessoas que tiram a própria vida continuará crescendo vertiginosamente – como tem sido nos últimos anos.
Quer ignorar isso? Ok, direito seu. Assunto “negativo”, não é? Afinal, você é um “good vibes” que só fala de coisas “positivas”. E isso é para atrair mais positivismo até sair fumaça do rabo e das orelhas de tanta “energia mega positiva” que você têm! Então, que tal compartilhar todo esse positivismo com quem precisa? Você deve ter algum amiguinho “baixo astral” que talvez até despreze porque ele não se encaixa com seus padrões power boy ou power girl! Caso se interesse por essa epidêmica patologia social, para fazer algo útil por alguém, comece a ler sobre o assunto. Vou indicar uns artigos interessantes para você começar a ver que morrem mais pessoas de suicídio que de guerra, desastres e violência urbana juntos:
- Crescimento constante: Taxa de suicídio entre jovens sobe 10% desde 2002 (Portal G1 – 22/04/17)
- Suicídio mata mais que guerras e homicídio, dizem especialistas (Super Interessante – 17/01/2017)
- Suicídio mata mais que guerras e homicídio (Portal G1 08/09/2006)
Citei apenas três notícias, mas há centenas de notícias, artigos e estudos sobre o assunto. Basta querer saber – coisa que poucos querem. As pessoas quase me batem quando afirmo essas coisas aí em cima que, como você constatará se quiser, são a pura realidade.
Mas voltemos à pergunta “quem você é?” e qual a ligação entre ela e o assunto que parece perdido aí no texto, o suicídio. Bem, a reflexão é parte fundamental da vida de um ser humano mentalmente sadio – coisa que não encontramos muito hoje em dia. Contudo, parece que a reflexão, principalmente sobre si mesmo, é considerada uma coisa chata e sem sentido – nada legal ou atrativa. Afinal, pessoas felizes são “apenas felizes”. Elas não precisam refletir, elas não precisam pensar, elas não precisam provar nada para ninguém – apesar do grande esforço comportamental para “parecer” tão feliz para os outros. Algo, no mínimo, estranho de se observar…
Será que essa nova ideologia baseada em desapego, pseudo independência e uma busca louca pela carapuça da felicidade está nos tornando realmente pessoas melhores? Será que estamos tão “maduros” assim para abandonarmos conceitos “ultrapassados” como família, casamento e compromissos afetivos e amorosos duradouros? Os dados mostram que não – não estamos tão “maduros” e “preparados” assim.
Veja que interessante, há mais mortes causadas por selfies que por ataques de tubarões. Cara, estou falando de SELFIES, pelo amor de Deus! Para quem não esteve no planeta nos últimos anos, selfies são aquelas fotos que as pessoas tiram de si mesmas, geralmente fazendo caras e bocas e, por vezes, arriscando a própria vida só para aparecer.
As selfies estão matando muita gente, pode acreditar nisso? Pois é… parece que aparecer tornou-se super importante, mais importante que a própria vida das pessoas! Faz duas semanas (maio/2018) assisti umas meninas na floresta da tijuca arriscando-se para conseguir “fotos iradas” em cima da contenção de um mirante à beira de um pequeno abismo. E para quê todo esse esforço?
A humanidade já lutou contra a fome, a guerra e a peste – que dizimavam dezenas de milhões de vidas. Hoje essas coisas não são nada se comparadas à suicídio, obesidade e selfies. Morre mais gente pelos efeitos da obesidade que de fome no mundo todo faz um tempo. Acha que estou exagerando? Não vou encher esse texto de referências, mas use o Google, ele é o cara! Sim meu amigo e minha amiga, a fome, a guerra e as pragas não são nada hoje se comprados ao suicídio, à obesidade e à selfie. Mas mesmo com a guerra da Síria?! Aliás, pray for Síria! Como é que pode?! Sim, mesmo com TODAS as guerras em curso juntas. Basta você pesquisar cinco minutos na internet para constatar isso. Então, não “pray ONLY for Siria”, mas “pray too for” obesos, depressivos, tarados por selfies e vítimas dessa falta de valores morais e culturais que nos abate hoje ainda muito mais!
Então, quem é você? Será que esse abandono dos valores e da autoavaliação para viver uma vida industrializada, enformada e enlatada que te ofereceram está realmente valendo a pena?
Você pode estar na moda, participando de grupinhos super cool, tirando altas selfies, cercado de “amigos” para todos os lados – milhares no Face e no Insta -, tirando a maior onda com seu corpinho em forma (forma de barril ou da musa fitness do momento, não importa) e, mesmo assim, pode estar infeliz e destruído por dentro. Quem conhece o que lhe diz sua consciência à noite, quando deita a cabeça no travesseiro para tentar dormir? Você a escuta ou manda uma selfie good vibes via status do WhatsApp pra sua consciência nessa hora?
Adoro esse mundo das futilidades e redes sociais! Eu realmente dedico um tempo do meu dia à isso, em especial quando vou ao banheiro, sabe? Fique de olho no meu Facebook e você saberá quando eu estiver lá! É quando faço minha melhores criações! 😀
Não, não morra de nojo, ódio ou gargalhadas, calma… Quero evidenciar com isso o quanto esse nosso “produto” é nojento e fedorento. Estou falando da vida nas redes sociais e da busca por parecer mais do que ser, ok? Favor não confundir os “produtos”.
Mas afinal, quem você é? Será que eu ou você somos definidos, ou pelo menos influenciados, pela nossa cultura? Talvez as próprias redes sociais possam estar dizendo quem somos hoje em dia. A religião já fez isso, será que continua fazendo com você? Talvez a pressão da família? Quem sabe sejam seus “amigos” que estejam colocando titica de galinha na sua cabeça? Quem será o culpado? Quem sabe seja você mesmo? É bem mais provável… o que acha?
A religião, a família, os amigos – verdadeiros ou não -, as redes sociais ou seja lá quem mais você puder citar e culpar estão sim sempre dizendo muita coisa. Sempre foi desse jeito e continuará sendo! Há mil “forças” ao seu redor dizendo quem você deve ser, o que deve vestir – ou até que deve andar nu -, como deve andar, no que deve pensar – ou que nem deve pensar em nada! O que importa é a quem você vai ouvir. Você tem ouvido a si mesmo? Quais são os SEUS valores? No que você realmente acredita? O que você acha disso tudo que tem sido zumbizado no seu ouvido? Bem, para que você crie valores e tome decisões conscientes será preciso REFLETIR, principalmente sobre si mesmo. Chama-se autocrítica ou autoavaliação.
Há muita coisa boa na internet, nas religiões e em todo lugar assim como há muita coisa ruim. Alguém que se importa com você pode te dar um conselho que vai ferrar com a sua vida se você o seguir. Mesmo alguém que te ama de verdade – serão poucos na sua vida -, poderá te conduzir por um caminho amargo. Qual fator é fundamental nisso tudo, senão sua própria avaliação consciente dos prós e contras? Você é o único realmente responsável pelo que faz com sua vida. Eu sou o único responsável pela minha vida, não posso fugir disso e você também não pode. Logo, vale a pena refletir e criticar. Vale a pena não fingir que tudo é simples demais e dizer “ele(a) só quer paz!”. Não meu amigo(a), não funciona desse jeito. A paz é uma conquista! E como todas, só se adquire com luta!
Seja o que os outros dizem que você deve ser e então será como uma obra de arte abstrata – colorida, borrada e sem sentido. Cada um verá o que quiser em você, mas você mesmo não será capaz de se definir. Precisamos ser mais do que isso. Nosso maior valor está em nossa individualidade. Ser mais uma figurinha repetida nunca completa o álbum de figurinhas e não faz nenhuma diferença. O seu maior valor está no que você é capaz de tornar diferente em você para que isso se reflita no pequeno mundo ao seu redor.
Fazer o tipo patricinha, garanhão, playboy, descolado, popular, fashion, machão, feminista, religioso, esportista, aventureiro, bad-boy ou qualquer outro pode te fazer aceito, mas nunca autêntico – e muito menos feliz de fato. As decepções e frustrações sempre vem, não tem jeito. Sabe o motivo? É que no fundo só queremos nos sentir menos solitários do que realmente somos. Temos a necessidade natural de vivermos em sociedade e esse papo de moderninho(a) independente é só mais uma besteira sem sentido que você talvez tenha deixado entrar na sua cabeça. Fique tranquilo, muitos passam por esses conflitos, inclusive eu. Mas te convido a lutar.
De fato, nós precisamos uns dos outros – nós vivemos em sociedade! O respeito, a integração social e o amor ainda são as coisas que conseguem preencher de verdade a alma de um ser humano. Vamos cultivar coisas valiosas ao invés de futilidades que fazem de nós mais robotizados e menos humanos – e também menos felizes – a cada dia. Temos muita tecnologia, nos livramos de nossos principais problemas contra os quais lutamos por milénios tais como fome, guerra e pragas. Mas estamos deixando nossa cabeça vazia e adotando estilos de vida cada vez mais danosos ao nosso ser. Estamos abrindo mão de valores e adotando os nossos piores “produtos” como se fossem nossos novos e grandes “tesouros”. Podemos fazer melhor que isso, eu e você, juntos!
Afinal de contas, a pergunta persiste e só você poderá responder: quem você é?