Hei de buscar conforto nesse cálice, mais uma vez. Conforto das desilusões da vida, dos desafios da lida, do limiar entre a razão e a loucura que ainda aprendo a discernir.
De todos os ventos que sopram do norte que sigo, alguns ainda me intimidam, outros me dão forças para lutar uma vez mais.
O cálice que aprecio é o sabor que o vento da vida leva, num simples sopro. Me deixando atônito a devagar sobre os rumos que devo tomar.
Mais uma vez de fronte da encruzilhada me vejo. Qual direção seguir? A resposta que todo homem gostaria de saber.
O destino é uma correnteza incerta que leva navegantes a deriva. Sempre certos de nossos atos seguimos confiantes. Mas na verdade aqueles ventos é que hão de mostrar o caminho.
Navegando por noites tenebrosas seguimos assustados, enquanto as ondas açoitam nossos humildes barcos. pobres jangadas frente o furor do mar.
Estamos nas mãos dos deuses? Ou de uma razão ainda maior que desconhecemos? Parecemos tão primitivos fazendo tais perguntas… pobres tolos, buscando naquele cálice conforto para o medo provindo das ondas que açoitam no mar.
Sabedores que seremos resgatamos pelas valquírias e levados ao valhala, lutamos com força todas as nossas batalhas. Familiares, profissionais… não importa! Cairemos com armas nas mãos! Bravos guerreiros! Atenderemos as expectativas que nos lançam olhos vorazes e intimidantes, seremos heróis dos nossos filhos, seremos exemplo em nosso trabalho, seremos ungidos em nossa fé!
Quem há de medir a pressão e a dor que vai no coração de quem navega pelos mares da vida urbana de uma cidade frenética como as que vivemos?
O dia começa cedo, há muitos compromissos a cumprir antes que a noite caia. Há chefes a responder, clientes a agradar, família a confortar, lar para cuidar, estudos a realizar e muitas outras coisas que os deuses não nos disseram quando nos jogaram nesse mundo.
Um dia acordamos e nos perguntamos se tudo isso tem valido a pena. Mas acreditamos que sim e seguimos sempre.
Para todos os desafios desse mar bravio haverá sempre uma garrafa na qual afogar as mágoas. Ou um Deus, uma fé, um jogo, um vício ou um estilo de vida qualquer. Cada um tem sua fulga.
Ainda vivemos e viveremos como se fôssemos imortais. Ainda lutamos e lutaremos. Ainda pensamos e pensaremos que tudo tem valido a pena. Ainda flertamos com nossa própria existência e consciência até que os deuses digam que chegamos ao final. Ou até que a natureza simplesmente nos conduza a conclusão de toda jornada, sem mais delongas ou romantizações.
Meu desejo é manter a fé em qualquer coisa até que esse dia chegue. E que no final eu ainda pense que tudo valeu a pena. Aí sim poderei descansar feliz pela eternidade. Mais um dia, mais um cálice. Um amém!