Para quem não conhece, basicamente, a Aposta de Pascal propõe que você considere logicamente duas hipóteses, a de que Deus existe e de que Ele não existe. Em seguida, você analisa a consequência de você acreditar ou não em Deus nestes dois cenários hipotéticos. O raciocínio prossegue da seguinte forma:
a) Caso você não acredite em Deus e Ele não exista, quando você morrer, nada acontece;
b) Caso você não acredite em Deus, mas Ele exista, então você se deu mal, vai para o inferno;
c) Caso você acredite em Deus e ele não existe, quando você morrer, nada acontece;
d) Caso você acredite em Deus e ele exista, você se deu bem, vai para o céu.
Observe a tabelinha abaixa que simplifica ainda mais o raciocínio:
Deus Existe | Deus não Existe | |
Você acredita | Você vai pro céu | Nada acontece |
Você não acredita | Vai pro inferno | Nada acontece |
Há duas formas de analisar a Aposta de Pascal. A primeira é do ponto de vista lógico, sem considerar questões religiosas. A segunda forma é do ponto de vista religioso, levando em conta o que o livro sagrado da religião em questão, a Bíblia, têm a dizer sobre isso. A seguir vamos abordar as duas formas de análise.
Na primeira análise, baseada em puro raciocínio lógico, a falha monstruosa da aposta de Pascal é que ela considera uma única religião e que, para piorar, é monoteísta.
Porém, à luz da realidade e dos fatos (inegáveis), há uma quantidade imensa de religiões e literalmente centenas de milhões de deuses. Dessa forma, o resultado muda completamente! Deixando de ser uma análise binária, que é a forma como a Aposta de Pascal apresenta o problema. Em se tratando de análise puramente lógica, não dá pra ignorar esse fato público e notório.
Numa análise puramente lógica e matemática, acreditar em um único deus, em meio a milhões, para acabar com o risco de uma punição no pós vida (caso exista), é uma aposta com probabilidades muito baixas, eu diria até miseráveis. Você precisaria acertar, entre milhões de deuses, qual ou quais deles deve acreditar e/ou agradar para receber uma recompensa após a morte. Racionalmente falando, esta não é uma tarefa fácil e pode ser mais difícil que acertar sozinho na loteria. Então, aconselho a procurar um método melhor, caso você esteja preocupado com seu destino no pós vida.
Agora, vamos fazer nossa segunda análise, desta vez levando em conta questões específicas da religião considerada por Pascal no problema, que é o Cristianismo. Para isso, vamos utilizar a única fonte confiável e suficiente de conhecimento que é a Bíblia Sagrada.
Segundo a Bíblia, a salvação é pela fé e pelas obras, pois sem fé é impossível agradar a Deus e a fé sem obras é morta. Logo, é preciso ter fé e ações condizentes com essa fé, não basta uma confissão de fé baseada em um raciocínio lógico qualquer.
A Bíblia também explica que é preciso amar a Deus de todo coração e com todo entendimento. Quem diz “eu vou acreditar em Deus, pois, caso Ele exista, eu não vou pro inferno” está deixando claro três coisas:
1) Não existe uma fé genuína, apenas, no máximo, o medo de um possível castigo;
2) A falta de fé já está evidenciada também pelo fato de a pessoa considerar que Deus possa não existir. Porém, Hebreu capítulo 11 deixa claro que a fé é o firme fundamento daquilo que não se vê. Ora, se é um “fundamento firme”, como alguém pode ter fé, mas considerar que, talvez, não seja verdade?
3) O medo de um castigo, que pode ser o inferno, é evidente motivação para a tomada de decisão aqui, mas será que o medo é aceito como justificativa para salvação?
Segundo a Bíblia não, o medo não é aceito como motivação ou sacrifício justo para a salvação. A Bíblia diz que Deus conhece o coração do homem, portanto, conhece sua verdadeira motivação e intensão. Também diz que “no amor não há temor, pois o temor trás consigo a pena e o que teme não é perfeito em amor”. Porém, o amor a Deus e ao próximo também são fundamentais para a salvação e o medo, como diz o texto, interfere diretamente nesse amor.
Desta forma, podemos concluir que apenas dizer que acredita para evitar um possível castigo realmente não serve para nada!
O medo não justifica e não salva ninguém, segundo a Bíblia. Abraão foi justificado pela fé, Nicodemos foi salvo por seu arrependimento, Cornélio foi alcançado por suas boas obras, mas quem a Bíblia diz que foi salvo pelo medo? Não vamos confundir o “temor”, muitas vezes citado na Bíblia mais com a conotação de respeito do que de medo, ok? Além disso, a Bíblia chega a dizer que “o temor a Deus é o princípio da sabedoria”, mas em momento nenhum associa a salvação ao medo.
É preciso compreender a fé e buscar conhecer a Deus, esse é o contexto bíblico. Ela diz “transformai-vos pela renovação do vosso entendimento”, diz para “adorar a Deus com todo entendimento”, diz “errai por não conhecer as escrituras”, logo podemos ver que entender a fé que professa é muito importante. Uma declaração vazia não demonstra fé genuína e não serve nesse contexto.
Por falar em fé genuína, é preciso crer de verdade porque “sem fé é impossível agradar a Deus”. Também é preciso amar tanto a Deus quanto ao próximo e quem declara uma fé vazia certamente não compreende, nem sequer possui amor naquilo que nem mesmo entende. Como poderia?
Sem esses pilares, que são o entendimento, a fé, as obras e o amor, segundo a Bíblia, não existe salvação.
A Bíblia diz “quem dera fosses quente ou frio, mas porque és morno, vomitar-te-ei da minha boca”, evidenciando que Deus condena covardia, passividade, falta de atitude e, por fim, quem está em cima do muro, na verdade já caiu dele, só não sabe ainda.
Para finalizar, ai vai a pior parte, do ponto de vista do Cristianismo…
Segundo os ensinamentos bíblicos, a pessoa que prega um argumento como este, da Aposta de Pascal, está prestando um desserviço. A menos que esse argumento seja apenas uma fala entre outras que complementem o raciocínio, à luz do que realmente diz a Bíblia.
Digo isto porque esse argumento induz as pessoas ao erro de achar que uma confissão banal de fé, motivada por um raciocínio lógico raso, acrescido do medo de um castigo, é suficiente pra “ir para o céu” da religião cristã.
A Bíblia diz que devemos amar a Deus e adorá-lo com todo nosso coração e entendimento, como foi dito. Professar uma fé sem saber no que ela se baseia e sem conhecer a Deus em sua essência, sem relacionamento e sem comunhão, não serve de nada!
A fé Cristã exige que o evangelho e a salvação sejam pregados tal como a Bíblia os descreve, senão, é melhor calar. O pastor responde por suas ovelhas e, se Deus realmente existe, dentro desse raciocínio lógico, vai cobrar pesado de quem faz (e diz) de tudo pra ganhar dinheiro dos fiéis e likes na internet.
Passar pano no que a Bíblia claramente condena e pregar um evangelho fácil é coisa de charlatão. Afinal, a porta é ESTREITA! Além disso, muitos foram chamados, mas poucos escolhidos. É isso que precisa ser dito, pois é o que está escrito.
Segundo a biblia, somente a fé GENUÍNA, com entendimento e inteireza de coração, mais o amor que ele faz brotar naturalmente e as obras que esse amor motiva a realizar é que podem salvar.
Dessa forma, devo concluir que a famosa Aposta de Pascal, citadas por muitos na internet, não serve para nada além de confundir leigos.
Este e outros argumentos apresento no meu livro “Deuses dos Homens”. Se gostou do argumento, pode ser que goste do livro 😉