Bem vindo seja ao moedor de carne!
É bem aqui, no centro do mundo dos covardes,
Onde toda fé se consome e a alma abate,
Onde brota no peito nu o medo,
Ao lado do músculo que já não bate.
Aqui onde toda esperança é finda,
Aqui mesmo, onde só a dor é infinita.
É no mesmo lugar onde se talha sorrisos falsos,
Aqueles esculpidos em rostos esticados.
Aqueles que retratam, sem trato, puro engodo.
A carne chega tenra e fresca – inteira!
Mas logo a engrenagem a trata como se deve.
Num mundo de tolos e toscos onde toda pureza será moída,
Onde toda beleza será poluída e todo sentimento aniquilado.
É nele que a carne tritura e sangra.
Uma massa homogênea produziremos!
Pois é desse modo que poderemos enformá-la.
Pensamentos e comportamentos uniformizaremos.
Nada escapará à força do moedor!
Aqui se cala e a mente guarda toda a dor.
Toda vez que pensares no que eras antes dele,
Tua cabeça se perderá entre sofismas e devaneios.
Terá sido realidade? Será mesmo recordação?
Tão distante está o tempo que era carne,
Que agora, parte dessa massa, mal consigo acreditar.
Vejo-me caminhando para o fogo!
É lá que seremos purificados de toda vida.
Enfim desidratados e assados, sem misericórdia!
Tratados como o resto do gado morto,
Sucumbiremos para alimentar os caprichos de alguém.
Essa é a balada do moedor!
Ele mói. Não tem espírito, sentimento ou pudor.
Jogados a ele somos tão somente carne e sangue.
Mas sem vida, sem auto conhecimento ou auto crítica.
A carne não pensa, somente padece.
E padeceremos a cada dia, sem pudor ou sentimento.
Toda manhã reavivaremos nosso tolo desalento.
Santificaremos nossas misérias, lamberemos as feridas.
Consagraremos nossos erros e nossa grande apatia.
Moídos, fracos, falidos… mas sorrindo na selfie 🙂