Um sorriso no rosto cala o gosto da dor que se carrega na alma. Máscara para o mundo. Grilhão para os sentimentos. É preciso parecer normal. Quem poderá julgar?
Por trás de discursos lindos de alegria infinita, gratidão, cores, amores, flores e paixão há também uma história triste, cheia de lágrimas e desencantos.
A vida não é só sorrisos, nem só lamentos. Não é só festa, nem só solidão. Não é só flash, nem só anonimato.
Erguemos, contudo, os murais da faixada colorida e enfeitada, para mostrar a todos nossa imensa satisfação. A felicidade plena que postamos nas redes sociais.
Não critico a atitude, é apenas constatação. Que enterramos as solitudes bem fundo lá no porão.
Desventurados, porém, criamos uma atmosfera surreal de uma felicidade que nunca acaba, mas que não existe. Subimos o nível das expectativas. E é inevitável a comparação.
Desejosos vislumbramos atônitos a possibilidade de realizar o que os outros parecem ostentar com tanta facilidade. Vivemos numa sociedade de conflitantes realidades.
Eventualmente encobrimos as frustrações num cobertor de sorrisos falsos. E jogamos sobre ele uma pá de cal. Porém, no fundo clamam.
Na foto, poses e cores de um ser humano feliz. Filtros e efeitos nos fazem ainda mais convincentes. As marcas da vida, dos anos e dos amores frustrados se dissipam na tela touch screen com o toque dos dedos num app qualquer.
É de se admirar com quanta facilidade se pode apagar as marcas da vida e do tempo para se produzir um post perfeito! Porém, eis que a rotina bate a porta. E nós trás de volta às lutas da vida.
O fim de semana passa e a segunda nos lembra quanta coisa há para fazer. Isso para aqueles que possuem um fim de semana para regozijar. Muitos não possuem, são assoberbados pelos eventos, infortúnios e escolhas da vida.
Há de se contentar o homem com o que tem e com as próprias escolhas? Ou haverá de lamentar-se por trás do lindo sorriso captado pela câmera de seu smart phone?
Pergunto-me o quão sinceros são os discursos de felicidade e gratidão que leio nas redes sociais. Pois também tenho minhas mazelas e frequentemente sinto-me indignado com os rumos da vida.
Talvez tenha me tornado rabugento e mesquinho com o tempo. A ponto de não ver com tanto encanto o fim de cada dia. Ou talvez seja eu simplesmente humano.