Essa é mais uma história da série “quando eu era criança pequena lá em Duque de Caxias” 😉
Certa vez, eu tinha cerca de 10 anos de idade, estava trabalhando no açougue do meu pai. Um de vários que ele teve.
Havia um pessoal que sempre ia lá pedir pelancas para dar aos cachorros. Muitos faziam isso. Era uma prática comum e antiga, principalmente entre pessoas de baixa renda. Alimentar os animais com restos de comida e pelancas.
Mas eu notei que, quando vinha aquele pessoal, meu pai não estava separando direito as partes que cortava e dava para eles. Eu sabia da habilidade dele com a faca e até eu, com 10 anos, já sabia fazer melhor que aquilo que via ele fazer.
Então perguntei: Pai, porque está cortando tão mal e deixando essa carne toda junto com pelanca que vai para os cachorros?
Ele me respondeu: Meu filho, esse pessoal pede para os cachorros, mas é para eles mesmos.
O açougue, evidentemente, ficava numa região muito pobre. Na entrada de uma rua onde havia muitos barracos.
Naquele momento eu entendi o que significava fazer o bem de verdade. Sem mérito, sem expectativa de retorno e sem platéia.
Trago esse ensinamento comigo até hoje. Meu pai nunca foi perfeito. Eu também não. Quem é? Mas naquele dia ele foi alguém que me ensinou algo muito importante por meio de um exemplo.
Todos somos capazes de ajudar o próximo de alguma forma. Mesmo fazendo pouco e agindo discretamente. Juntos somos grandes e podemos fazer grandes coisas.
Hoje, em nosso estado tão dominado pelo mal, precisamos lembrar de coisas boas, de bons exemplos, de acreditar no poder do bem, de esquecer por um momento a persuasiva e marcante presença do mal nas nossas vidas e nos esforçarmos para fazer alguma diferença, ainda que pequena.