Este é mais um artigo voltado à educação de nível superior. Utilizarei nos exemplos tópicos ligados ao mercado de Tecnologia da Informação, pois é a minha área de especialização. Porém, os critérios que serão apresentados servem também para outras áreas. Basta usar a imaginação e substituir os nomes técnicos para os da sua área (se você não for de TI) e os conselhos continuarão valendo.
A motivação do artigo, obviamente, é apoiar e orientar estudantes, recém-formados e profissionais com pouca experiência. E, por favor, vamos começar assumindo que cursos extracurriculares são importantes, ok? Não é objetivo deste artigo colocar a importância deles em discussão, mas sim os critérios para escolher e investir. Afinal, trata-se de trocar tempo e dinheiro por conhecimento. É preciso saber escolher para evitar desperdício destes recursos tão preciosos.
Alinhados quanto à motivação e objetivo do artigo, lhe pedirei que pense por um minuto em quantos cursos você acha interessante e/ou gostaria de fazer nos próximos meses. Considere, por exemplo, cursos de tecnologias específicas (Java, .Net, Android, Swift, SAP, AWS), métodos e processos (Scrum, XP, TDD, RUP) e também técnicas, frameworks e boas práticas (User Experience, PMI, ITIL, COBIT).
Já pensou nos cursos que gostaria? Quem sabe você queira fazer tudo que eu citei e ainda muito mais, não é? Se você pensar pelo trabalho que isso irá lhe dar, poderá não querer fazer nenhum. Mas se pensar no possível retorno profissional e financeiro, aí as coisas mudam e o interesse surge.
Lembro que quando eu estava na faculdade queria fazer quase todos os cursos de que ouvia falar. Mais tarde, quando me tornei professor, pude ver alguns alunos enfrenando o mesmo dilema que eu tive. Os alunos mais interessados, claro. O dilema de ter muito a aprender, mas não ter muito tempo nem muito dinheiro. É uma fase difícil!
A primeira dica é: decida-se sobre o que você quer ser! Em outras palavras, defina qual função você desempenhará no mercado de trabalho. Este é o fator mais importante de todos e não apenas para escolher cursos extracurriculares. Saber o que se quer é importantíssimo para que você possa alcançar seus objetivos com mais velocidade e menos sofrimento. Sempre abordo este ponto em artigos como esse, pois ele é realmente determinante para a tomada de decisões quanto à formação e a vida profissional. Pessoas indecisas tendem a perder muitos recursos e trilhar um caminho bem mais longo.
Como segunda dica, recomendo buscar conhecer um pouco mais sobre o assunto de interesse, quer seja pesquisando na internet ou conversando com profissionais mais experientes, antes de procurar qualquer instituição de ensino ou cursinho. Não procure orientação lá no cursinho, pois as pessoas poderão estar mais interessadas em vender do que no seu futuro profissional. Certifique-se de que o assunto é realmente relevante para a função que você vai exercer no mercado de trabalho. Se depois de pesquisar por você mesmo e também conversar com pessoas imparciais você chegar a conclusão que o assunto não é realmente relevante, recomendo descartar e procurar outro que seja. Não desperdice seu tempo, aprenda a priorizar. Este, aliás, já é um exercício extremamente útil e uma habilidade exigida pelo mercado de trabalho.
Chegou a conclusão que o assunto é de interesse e também é relevante? Ótimo! Mas antes de decidir, lá vai a terceira dica: Você já procurou saber se existe alguma certificação associada a este assunto? Este curso que você encontrou por aí cumpre algum pré-requisito para, mais tarde, você obter a certificação? Se não entendeu fique tranquilo, eu vou explicar melhor.
Muitos dos assuntos que você vai decidir estudar (sejam tecnologias, técnicas, métodos ou conjuntos de boas práticas) podem e provavelmente são regulamentados por alguma instituição, empresa ou órgão (geralmente internacionais). Esta organização, que está por trás do assunto que você pensa em estudar, estabelece critérios para “premiar” com uma certificação ou licença os profissionais que alcançam proficiência. Isto significa que se você investir em um curso que não cumpre com as exigências ou critérios estabelecidos pela organização responsável você estará desperdiçando, de certa forma, energia com algo que poderia lhe dar um retorno ainda maior. Mais tarde, quando você desejar obter a certificação, terá que fazer outro curso, muito semelhante àquele que já fez, mas que cumpre os requisitos da organização responsável.
Vamos ao exemplo. Já ouviu falar de Scrum? Se você é de TI, é quase certo que sim. Esse é um método para gestão de projetos bastante famoso hoje em dia. Mas você sabia que, apesar de haver um montão de cursinhos de Scrum por aí, apenas alguns deles podem lhe conceder ao final o privilégio de ostentar a certificação da Scrum Alliance? Esta é a organização que regula o Scrum no mundo. E se você não seguir os padrões dela não pode se dizer realmente conhecedor da metodologia e nem comprovar proficiência por meio de uma certificação. Neste caso, por isso é um bom exemplo, a organização responsável exige que você aprenda o método pelo curso oficial, que só pode ser ministrado por um profissional qualificado para este fim. Apenas depois do curso realizado você pode fazer a prova teórica que lhe dará a certificação. Para você ter uma ideia, hoje no RJ só existe uma instituição que oferece o curso oficial, mas há centenas de cursinhos “alternativos”.
Agora imagine que você, ao invés de fazer o curso oficial formulado e ministrado de acordo com os critérios da Scrum Alliance, fez outro qualquer que não lhe dá o direito de fazer a prova. Se quiser ser reconhecido como um profissional qualificado para trabalhar com Scrum, você terá que fazer o curso novamente. Perdeu tempo e dinheiro fazendo da primeira vez, mesmo que tenha sido mais barato.
A Oracle e a Microsoft também exigem cursos oficiais para algumas certificações, só para dar mais exemplos. Então, recomendo atenção a este detalhe. Afinal, qualquer certificação ou curso oficial darão muito mais peso ao seu currículo. Isto não se discute.
Por fim, uma quarta dica: Busque referências sobre a instituição onde você vai estudar e o professor que ministrará as aulas. O currículo do professor e as referências do curso são muito importantes. Se não houver experiência e didática adequadas, você terá mais dificuldade para absorver o conteúdo que, por sua vez, já pode ser bastante exigente.
Resumindo, estas são as quatro dicas fundamentais para decidir quais cursos fazer:
1 – Defina-se quanto à função que você vai exercer na vida profissional;
2 – Avalie a importância do assunto de interesse com relação à função escolhida. Aprenda a priorizar os assuntos mais relevantes;
3 – Procure saber se o assunto não exige um curso oficial ou critérios específicos como pré-requisitos para uma certificação ou licença. Se houver, vale mais a pena buscar o caminho oficial, mesmo que você não pretenda certificar-se agora;
4 – Por fim, avalie bem a instituição e o professor. Ao colocar no seu currículo o nome de uma instituição, você coloca junto a reputação dela.
Espero ter contribuído para elucidar este velho dilema. Deixe sua opinião, ok?
Grande abraço!